Monday, July 27, 2009

Emoção vs. Razão

No início do século XX, um astrónomo chamado Percival Lowell, ao observar Marte, dizia conseguir ver canais gigantescos ao longo da superfície do planeta. Fez desenhos e relatos das suas observações, imaginando que lá habitaria uma civilização sábia e antiga, mas à beira da destruição. Tinham gasto os seus recursos naturais, e os canais serviam para distribuir a pouca água que ainda existia nos pólos a todo o planeta. Quando as sondas Voyager foram enviadas para observar Marte viram muita coisa, mas não quaisquer canais. Lowell via o que queria ver. O desejo de encontrar vida extra-terrestre emocionava-o, o que o fez ver coisas que não estavam lá.

No início do século XVII, Johannes Kepler acreditava num Deus geómetra, e tinha o sonho de explicar o movimento planetário com base nos sólidos perfeitos. Durante anos, tentou provar as suas ideias, em particular a de que as órbitas planetárias seriam circunferências perfeitas. No entanto, as observações não encaixavam na perfeição na sua teoria. O que outros teriam despachado como erro experimental, Kepler acabou por justificar deitando abaixo a sua querida teoria, descobrindo que as órbitas planetárias são, na realidade, elípticas. Tal descoberta foi, para ele, uma desilusão. Apesar disso, o desejo de provar que a sua teoria era correcta não o impediu de, no momento crucial, colocar a razão à frente da emoção.

O filósofo e matemático Bertrand Russell escreveu: “The opinions that are held with passion are always those for which no good ground exists; indeed the passion is the measure of the holder’s lack of rational conviction.” De facto, podemos perceber que a única forma de Lowell justificar as suas crenças seria de forma apaixonada. Kepler, pelo contrário, colocou de lado a paixão para poder caminhar no sentido da verdade. Esta capacidade é, para mim, a essência do pensamento científico.