Há certas teorias pedagógicas que defendem que os exercícios repetitivos não são recomendáveis, que a técnica destrói a criatividade, que decorar não é bom, e que o que interessa é aquilo que tem aplicabilidade imediata.
A psicologia moderna já esclareceu que estas teorias estão erradas, como demonstrou Michel Fayol na conferência recentemente organizada pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, intitulada Fazer contas ajuda a pensar?. Na mesma conferência, António Bivar expôs o estudo que está a desenvolver sobre os programas de Matemática do Ensino Básico e Secundário, mostrando que, ainda assim, este tipo de teorias é dominante.
Este é um campo em que se deveria ouvir o que os artistas têm a dizer, pois parece ter sido onde estas ideias menos têm pegado. Pensando nos músicos e, em particular, nos instrumentistas, eles ainda sabem que estas ideias não têm qualquer sentido. Tocar escalas não parece ter aplicabilidade imediata e os chamados "estudos" são chatos e repetitivos; no entanto, são essenciais para o desenvolvimento da técnica. Por sua vez, esta não destrói a criatividade; é, isso sim, indispensável para quem quer ser criativo. Finalmente, decorar é essencial para se ter à vontade com aquilo que se está a fazer.
Também nas restantes áreas deveriamos perceber que a repetição, a técnica e a capacidade de decorar têm muito para nos ensinar. É claro que isto não significa, ao contrário do que o cartoon acima indica, que não se deva perceber e raciocinar. Significa simplesmente que repetir e decorar podem-nos ajudar a fazê-lo.