Há uns dias, referi que ainda há-de chegar o dia em que os alunos do Ensino Básico e Secundário hão-de protestar não contra os exames nacionais e a exigência, mas em favor destes, quando perceberem que esse é um modelo que os prejudica. É por isso com agrado que leio esta notícia do Público a propósito da Greve Geral de ontem.
Ontem não pararam por sua iniciativa, mas até pensam que provavelmente o deveriam ter feito. "Fazia muito mais sentido do que ter uma manifestação contra os exames nacionais, como aconteceu na semana passada", argumenta Inês Tristão, aluna do 12º ano da Escola Secundária José Gomes Ferreira, em Lisboa.A manifestação foi convocada pela Delegação Nacional de Associações de Estudantes do Ensino Secundário e Básico e a reivindicação apresentada não convence Inês: "É um disparate." Está com quatro amigos à porta da escola - já foram informados que não terão pelo menos as primeiras aulas -, têm entre 16 e 18 anos, são unânimes no diagnóstico: estão num país sem futuro para eles. "Há milhões de oportunidades por aí", ironiza João Bastos. Ricardo Paulino não está para brincadeiras. Tem um projecto de vida, que resume assim: "O sonho é sair daqui, ir embora de Portugal, e esse é geral a muitos de nós."Aplaudem as razões que levaram à paralisação, mas duvidam que algo acabe por mudar. E não só por culpa do Governo ou dos partidos políticos, mas também pelo que pressentem ser uma espécie de característica nacional - um estado de acomodação, que Henrique Cunha apresenta deste modo: "O povo português é cão que ladra e não morde."
De facto, independentemente desta Greve ser na prática irrelevante, pois as medidas de austeridade anunciadas não só vão ser tomadas como têm de ser tomadas, a verdade é que faz muito mais sentido para um aluno manifestar-se contra o estado a que o país chegou (o que também está directamente relacionado com esta Greve) no que diz respeito à educação e às oportunidades para os jovens, do que contra os exames nacionais e afins.
Ainda bem que verifico que há alunos a pensar assim. Protestar contra os exames nacionais e contra a exigência é estar a favor do estado em que nos encontramos.