Thursday, December 23, 2010

Para que serve a exploração espacial?


Porque vamos explorar o espaço se há pessoas a morrer à fome na Terra?

Esta pergunta é de vez em quando colocada por variadas pessoas (por exemplo, por Saramago), embora não faça qualquer sentido. Há muito dinheiro mal gasto na Terra (em guerras, por exemplo), porque não perguntar antes se o vamos continuar a gastar quando há pessoas a morrer à fome? E na Terra também se faz investigação científica, não é só no espaço; como tal, para quem coloca a questão acima, porque não usa também toda a investigação científica sem aplicabilidade imediata para o seu argumento?

A resposta parece-me evidente: para fazer uma metáfora mais bonitinha. Ao opor-se desta forma o que está longe e o que está perto, e dizendo que se chega mais facilmente ao primeiro, talvez se ache que se está a usar uma poderosa metáfora. Infelizmente, quem o faz não se apercebe de que ao colocar a questão assim, preto no branco, separando desta forma redutora os supostos problemas importantes (os que estão perto) dos supostos problemas irrelevantes (os que estão longe), só está a ser absolutamente demagógico e simplista.

Para quê, então, explorar o espaço? Na minha opinião, há uma razão que se sobrepõe a todas as outras: pelo conhecimento. Pela mesma razão que criámos a História ou a Ciência, pela vontade de conhecer, seja o passado ou o mundo que nos rodeia. Não faz sentido que essa busca pelo conhecimento deva ter critérios diferentes se for feita na Terra ou fora dela, a não ser na cabeça de quem se usa da exploração espacial para fazer expor os seus argumentos de forma demagógica.

Felizmente, há ainda outras razões para fazer investigação em espaço, incluindo imensas aplicações úteis no imediato para a sociedade. Para dar a conhecer essas aplicações ao público, a NASA editou um documento (pode ser lido aqui) onde explica como tecnologias utilizadas para exploração espacial acabaram por ter aplicações em diversas áreas, desde a medicina até aos transportes.

Não se deve, no entanto, cair no erro de achar que toda a investigação que se faz deve ter aplicabilidade imediata. A maioria da investigação faz-se para aumentar o saber. Só depois de se conhecer é possível entender que benefícios poderá trazer.