Há alguns dias, a NASA anunciou que iria fazer um comunicado sobre uma descoberta que teria enorme impacto na procura de vida extraterrestre. O mau jornalismo, que também chegou a jornais de portugueses de qualidade, anunciou com pompa que a NASA poderia ter descoberto vida extraterrestre. Na altura cheguei a dizer (não aqui no blog) que o que tem impacto para a ciência poderia ser insignificante para o público em geral, e que possivelmente seria isso a acontecer.
E assim foi. O anúncio da NASA teve que ver com a descoberta de uma bactéria (não noutro planeta, mas aqui na Terra) que pode utilizar arsénico para sobreviver. Isto, como é evidente, nada diz ao senso comum. No entanto, é importantíssimo para a ciência, pois até agora não se conhecia nenhum organismo vivo que pudesse utilizar arsénico, um elemento tóxico, para sobreviver. Descobriu-se, portanto, um ser vivo com capacidades completamente diferentes de qualquer outro anteriormente conhecido.
E o que tem isto a ver com vida extraterrestre? A resposta está relacionada com o seguinte: quando procuramos vida extraterrestre, o que é que devemos exactamente procurar? Seres iguais aos que encontramos na Terra? Seres diferentes destes, mas que continuam a utilizar os elementos que associamos à vida - carbono, fósforo, oxigénio, etc.? Ou será que a vida na Terra baseia-se nesses elementos por serem mais comuns, e que os seres vivos de outro planeta poderiam necessitar de elementos para sobreviver que nós consideramos tóxicos?
Alguns cientistas pensam que a vida teria de surgir associada aos mesmos elementos que surge aqui na Terra - é ao que Carl Sagan chama, no livro As Ligações Cósmicas, o "chauvinismo do carbono". No entanto, acabou de se provar o contrário. Como consequência, as formas de vida existentes pelo Universo podem ser completamente diferentes das que conhecemos, o que aumenta a probabilidade de se descobrir vida.
No blog astroPT, Carlos Oliveira dá o seguinte exemplo, no nosso próprio Sistema Solar: "em Titã [lua de Saturno], existe o ambiente “ideal” para bactérias como estas… e não para o tipo de vida que andávamos lá à procura!"
Afinal, acabámos mesmo de descobrir vida "extraterrestre"... mas na própria Terra.