Há uma confusão muito comum entre liberdade de opinião e validade de opinião. A liberdade de opinião, felizmente, existe hoje em dia nos países desenvolvidos: ninguém é preso ou paga uma multa por dizer que acredita que as pulseiras do equilíbrio fazem efeito, que os remédios homeopáticos curam doenças, ou que que o Homem não foi à Lua. O problema é que, quando são confrontadas com factos claros que mostram que essas crenças não têm sentido, muitas vezes a resposta é "tenho o direito à minha opinião". Verdade! No entanto, é preciso recordar: ela não se torna válida por causa disso.
Esta tendência talvez esteja relacionada com um certo pensamento pós-moderno que procura descredibilizar a ciência e, quando chega ao limite dos limites, defende que todas as opiniões são igualmente válidas porque só dependem do ponto de vista de quem as emite. E isto não é verdade.
Discutir as pulseiras do equilíbrio ou o efeito de remédios homeopáticos (ou, até, a viagem à Lua), não é como discutir o aborto ou a eutanásia. Os primeiros temas podem ser quantificados tendo em conta factos e dados obtidos em experiências ou ensaios clínicos bem feitos; os segundos só permitem, quanto muito, que se quantifiquem as suas consequências na população, mas não a sua validade moral, que geralmente é o que está em debate. O filósofo e matemático Bertrand Russell explicitou muito bem esta diferença no seu livro Religion and Science:
While it is true that science cannot decide questions of value, that is because they cannot be intellectually decided at all, and lie outside the realm of truth and falsehood. Whatever knowledge is attainable, must be attained by scientific methods; and what science cannot discover, mankind cannot know.
É, portanto, preciso insistir no seguinte: há coisas de tal forma quantificáveis que é possível saber se estão certas ou erradas. Na introdução do livro Bad Science (em português, Ciência da Treta), o autor Ben Goldacre reforça esta ideia muito claramente:
E se, quando terminar [de ler o livro], ainda achar que discorda de mim, então sugiro-lhe o seguinte: não deixará de estar errado, mas pode ter a certeza de que o estará, só que de uma forma muito mais confiante (...).