Há cerca de dois ou três anos, num Prós e Contras sobre educação, uma professora pedia para que se olhasse para os rankings da OCDE sobre performance em leitura, matemática e ciência com o mapa da Europa na cabeça. Olhando para os países pior classificados, vai-se chegar a um padrão que se repete nas várias áreas e nos vários anos: Turquia, Grécia, Itália, Portugal, Espanha... o Sul da Europa...
Com isto, a referida professora queria chamar a atenção para o facto de o nosso problema ser em grande parte cultural, e que por isso levaria várias gerações a mudar. Devo dizer que concordo com esse argumento. Aliás, o problema não está só na educação: veja-se por exemplo o termo PIGS, utilizado em finanças para referir quatro países com uma enorme dívida externa: Portugal, Itália, Grécia e Espanha... mais uma vez, o Sul da Europa...
Mas o que está na génese deste atraso sul europeu? Se apenas quisermos ter uma ideia geral do que poderá causar o problema não são precisos grandes estudos sociológicos, bastando apenas uma visita (ou, de preferência, uma estadia um pouco mais prolongada) aos países do Norte e Centro da Europa. A organização, a pontualidade, a responsabilidade, o empenho e o respeito (pelos outros e pelas regras) saltam facilmente à vista. E, como é evidente, um país organizado e com pessoas responsáveis (políticos com a vida pública exposta, trabalhadores conscientes de que no trabalho é para trabalhar, etc.) tem o primeiro passo dado para desenvolver uma educação de qualidade e uma economia estável.
Em Portugal (e, pelos vistos, noutros países do Sul da Europa) a história é diferente. Veja-se uma situação que ocorre comigo recorrentemente. Tenciono frequentar o mestrado no estrangeiro, e as minhas opções principais são a Universidade Técnica de Delft (Holanda) e o Instituto de Tecnologia Real (Suécia, Estocolmo). Quando digo isto a alguém, raramente as pessoas se preocupam em saber qual a qualidade da educação nestas Universidades, o contacto que têm com empresas prestigiadas, ou a facilidade com que colocam alunos no seu próprio mercado de trabalho ou no europeu. No entanto, há uma preocupação que domina: na Holanda o tempo é nublado e chuvoso e na Suécia faz frio.
Em tom de brincadeira séria, apetece dizer que parece que é esta a grande preocupação dos portugueses (e, possivelmente, do restante sul europeu): o clima. Não por acaso, a chuva é desculpa para tudo em Portugal. Uma pessoa minha conhecida estrangeira costumava dizer que a coisa que lhe fazia mais impressão nos portugueses era que quando chove ninguém faz nada. Não por acaso, quando chove ao fim de semana, a imagem que tenho do típico português é que, mesmo que tenha um monte de trabalho no escritório ao lado, não se levanta do sofá nem descola os olhos da televisão (apesar de também não chover no escritório). O típico português fica espantado como é possível viver sem o insuportável calor do nosso Verão para que possa passar Agosto inteiro na praia (das poucas coisas que não pára no Portugal de Agosto).
O problema é que, como se tem visto em questões como as duas aqui referidas (educação e economia), o típico português (e sul europeu) devia estar mais preocupado com coisas sérias...