No livro Um Discurso sobre as Ciências, o professor Boaventura Sousa Santos, catedrático de renome na área da sociologia, escreve o seguinte:
(...) a ciência moderna não é a única explicação possível da realidade e não há sequer qualquer razão científica para a considerar melhor que as explicações alternativas da metafísica, da astrologia, da religião, da arte ou da poesia.
Antes de comentar esta afirmação, há outro tópico que gostaria de abordar. Há alguns anos, o físico Alan Sokal escreveu um artigo para um número especial da revista Social Text dedicado às Guerras de Ciência. O texto tinha o seguinte título: Transgredindo as Fronteiras - Para uma Hermenêutica Transformativa da Gravidade Quântica. Ah, que belo título: pomposo, chamativo e com impacto! Tem, no entanto, um problema: não tem qualquer significado. Ou seja, bem ao jeito de uma publicidade às pulseiras do equílbrio.
Aliás, não era só o título a ter esse "problema". Todo o artigo era um chorrilho de asneiras pseudo-científicas que metia muitas vezes a palavra "quântico" (é a palavra preferida de quem quer impressionar os outros com pseudo-ciência). Mas de facto a palavra "problema" deve estar entre aspas, porque este era precisamente o objectivo de Alan Sokal. O artigo foi aceite e aplaudido pela revista, mas brevemente Sokal disse tratar-se de uma paródia. O artigo pretendia simplesmente evidenciar a falta de critério que o pensamento pós-moderno tinha trazido às ciências sociais.
A razão por que me pareceu pertinente relatar esta situação é a seguinte: quem não conhecer Boaventura Sousa Santos e ler o excerto que aqui coloquei poderá pensar que se trata de uma paródia ao pensamento pós-moderno como a que Sokal fez. No entanto, não só é mesmo a sério, como o professor Boaventura Sousa Santos é visto como pelos seus admiradores como uma espécie de Maomé do pensamento pós-moderno em Portugal.
Considerando que era urgente expor a verdade sobre excertos como este, o professor de física e medicina nuclear António Manuel Baptista escreveu um livro intitulado O Discurso Pós-Moderno Contra a Ciência - Obscurantismo e Irresponsabilidade. Aqui fica parte do texto da contra-capa:
Considerando que as crenças desta corrente de pensamento são como certos vírus que, expostos ao ar e à luz, se inactivam, o físico António Manuel Baptista expõe-nas ao pensamento crítico dos leitores, mostrando como assentam, na hipótese mais generosa, numa profunda incompreensão do que é a ciência, infectando, numa sociedade pouco instruída e nada crítica como a nossa, tudo o que é mais importante para o país, desde a educação e a saúde até à política.
Para terminar, deixo uma questão: será que o professor Boaventura Sousa Santos, quando está doente, vai ao médico ou consulta o bruxo africano da esquina? Atendendo ao seu discurso, calculo que fique a ponderar sobre quais destas duas formas "igualmente válidas" de tratar a realidade prefere...