Tuesday, November 30, 2010

Northern Lights


Esta fotografia foi tirada o mes passado em Tromsø, a sétima maior cidade da Noruega e uma das que se situa mais a norte, a quase 70º de latitude. Nesta cidade, a Noite Polar dura de 26 de Novembro a 15 de Janeiro, o que significa que, durante estes meses, o Sol não é visto no céu. Nos meses em redor, Tromsø é um dos melhores locais do mundo para observar o fenómeno desta fotografia: Aurora Boreal, traduzido frequentemente para inglês como Northern Lights.

Este fenómeno tem origem nos choques de partículas carregadas que se dão na ionosfera, excitando moléculas que, ao serem desexcitadas libertam fotões. Quando a molécula excitada é o oxigénio, a aurora toma geralmente uma cor verde, que é a sua cor mais comum. No entanto, quando a molécula excitada é o azoto, a aurora toma um aspecto ainda mais raro e exótico, enchendo o céu de azul e vermelho.

Esta é uma das mais espantosas fotografias que vi de uma aurora boreal. No video abaixo, é possivel ver mais exemplos em alta definição, todos eles filmados em Tromsø.

Thursday, November 25, 2010

"[Uma manifestação contra os exames nacionais] é um disparate"

Há uns dias, referi que ainda há-de chegar o dia em que os alunos do Ensino Básico e Secundário hão-de protestar não contra os exames nacionais e a exigência, mas em favor destes, quando perceberem que esse é um modelo que os prejudica. É por isso com agrado que leio esta notícia do Público a propósito da Greve Geral de ontem.
Ontem não pararam por sua iniciativa, mas até pensam que provavelmente o deveriam ter feito. "Fazia muito mais sentido do que ter uma manifestação contra os exames nacionais, como aconteceu na semana passada", argumenta Inês Tristão, aluna do 12º ano da Escola Secundária José Gomes Ferreira, em Lisboa.

A manifestação foi convocada pela Delegação Nacional de Associações de Estudantes do Ensino Secundário e Básico e a reivindicação apresentada não convence Inês: "É um disparate." Está com quatro amigos à porta da escola - já foram informados que não terão pelo menos as primeiras aulas -, têm entre 16 e 18 anos, são unânimes no diagnóstico: estão num país sem futuro para eles. "Há milhões de oportunidades por aí", ironiza João Bastos. Ricardo Paulino não está para brincadeiras. Tem um projecto de vida, que resume assim: "O sonho é sair daqui, ir embora de Portugal, e esse é geral a muitos de nós."

Aplaudem as razões que levaram à paralisação, mas duvidam que algo acabe por mudar. E não só por culpa do Governo ou dos partidos políticos, mas também pelo que pressentem ser uma espécie de característica nacional - um estado de acomodação, que Henrique Cunha apresenta deste modo: "O povo português é cão que ladra e não morde."
De facto, independentemente desta Greve ser na prática irrelevante, pois as medidas de austeridade anunciadas não só vão ser tomadas como têm de ser tomadas, a verdade é que faz muito mais sentido para um aluno manifestar-se contra o estado a que o país chegou (o que também está directamente relacionado com esta Greve) no que diz respeito à educação e às oportunidades para os jovens, do que contra os exames nacionais e afins.

Ainda bem que verifico que há alunos a pensar assim. Protestar contra os exames nacionais e contra a exigência é estar a favor do estado em que nos encontramos.

Friday, November 19, 2010

Há (e cada vez mais) perguntas fáceis

Esta notícia do Expresso sobre as provas de aferição de Matemática e Português deixa qualquer um chocado:
Sete em cada dez alunos do 6.º ano não conseguem colocar por ordem alfabética uma lista de nove palavras começadas por 'm'.

No teste do 4.º ano, a identificação de um conjunto de palavras graves ou do sujeito e predicado em frases aparentemente simples ("O homem enviou uma carta à lua" e "A lua e as estrelas sorriram") também causou mais problemas do que seria de esperar. No caso deste último exercício, 61% dos alunos não responderam ou não conseguiram ter a cotação total.

Em relação à prova de Matemática do 6.º ano, a Sociedade Portuguesa de Matemática chegou a considerar que metade das perguntas correspondia a matéria do 1.º ciclo (até ao 4.º ano). Era o caso da questão em que se pedia para calcular um quarto de oito. O próprio Gave diz tratar-se de um "item aparentemente elementar". Mas só metade dos alunos acertou.
O título da notícia - Já não há perguntas fáceis - lembra-me uma ideia que algumas pessoas têm sobre esta questão (não estou a dizer que é essa a ideia do autor da notícia ao ter colocado este título): como a maioria dos alunos já não consegue responder a estas perguntas, isso significa que elas deixaram de ser fáceis no contexto escolar actual, e como tal a avaliação e a exigência têm que se adaptar a isso.

Não é verdade: estas perguntas continuam a ser estupidamente fáceis para os anos de escolaridade em que estão a ser colocadas, e se os alunos não conseguem responder correctamente, então é necessários que se lhes transmita critérios mais apertados de exigência e de rigor, e não que esses sejam diminuidos na avaliação.

Depois, quando é chegada a altura de avaliar, a questão que se tem de ter em mente é a seguinte: o que está a ser exigido é suficiente para, no futuro, preparar pessoas capazes de pensar e de exercer uma profissão? Caso a resposta seja negativa, então essa avaliação é uma farsa, independentemente da percentagem de alunos que consegue responder correctamente às questões.

A inteligência ficou em casa

No dia 17 de Novembro foi-me distribuido o panfleto que está na imagem. Lendo o que lá está escrito e ignorando palavras como "propinas" ou "Bolonha", até poderia parecer que se tratava de uma manifestação realizada por alunos da escola primária, tal é a infantilidade com que se expõem argumentos e se tenta cativar os colegas.

Neste post, referi que quando os alunos do Ensino Básico e Secundário vão para a rua manifestar-se não costumam defender os seus direitos, pois o que estão a defender prejudica-os, ao contrário do que eles próprios pensam. O mesmo não se passa (ou poderia não se passar, se houvesse o mínimo de inteligência) com o Ensino Superior: questões como Bolonha ou a gestão das bolsas têm de facto problemas que poderiam ser melhorados. No entanto, tudo vai por água abaixo quando se expõe ideias desta forma miserável, populista e demagógica.

Sunday, November 14, 2010

Nivelar por baixo


Um dos problemas de Portugal é a obsessão por aqueles que são piores que nós. Esta obsessão poderia ser positiva, caso tivesse como objectivo perceber os seus problemas para que não cometêssemos os mesmos erros. No entanto, não é isso que se passa: esta obsessão pelos piores deve-se ao facto de, por alguma razão, nos sentirmos bem por não sermos o último dos últimos.

Esta tendência muito portuguesa para nivelar por baixo os nossos objectivos é provavelmente uma das causas do estado em que nos encontramos. A verdade é que não há razão para ficarmos satisfeitos por haver alguns piores que nós; deveríamos, isso sim, ficar por um lado desiludidos por haver tantos melhores que nós, e por outro motivados para melhorar.

Quanto a formas de melhorar, só há uma: nivelando por cima. Olhar para aqueles que são melhores que nós e tentar atingi-los, mesmo que pareça (ou até que seja) impossível lá chegar. Na minha opinião, esta ideia aplica-se tanto de um ponto de vista pessoal como global: é colocando objectivos acima das nossas capacidades que podemos dar o nosso melhor. Mesmo que não cheguemos lá, teremos chegado mais longe do que colocando objectivos medianos. Esta é a forma de evoluir.

Friday, November 12, 2010

O que os artistas sabem

Há certas teorias pedagógicas que defendem que os exercícios repetitivos não são recomendáveis, que a técnica destrói a criatividade, que decorar não é bom, e que o que interessa é aquilo que tem aplicabilidade imediata.

A psicologia moderna já esclareceu que estas teorias estão erradas, como demonstrou Michel Fayol na conferência recentemente organizada pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, intitulada Fazer contas ajuda a pensar?. Na mesma conferência, António Bivar expôs o estudo que está a desenvolver sobre os programas de Matemática do Ensino Básico e Secundário, mostrando que, ainda assim, este tipo de teorias é dominante.

Este é um campo em que se deveria ouvir o que os artistas têm a dizer, pois parece ter sido onde estas ideias menos têm pegado. Pensando nos músicos e, em particular, nos instrumentistas, eles ainda sabem que estas ideias não têm qualquer sentido. Tocar escalas não parece ter aplicabilidade imediata e os chamados "estudos" são chatos e repetitivos; no entanto, são essenciais para o desenvolvimento da técnica. Por sua vez, esta não destrói a criatividade; é, isso sim, indispensável para quem quer ser criativo. Finalmente, decorar é essencial para se ter à vontade com aquilo que se está a fazer.

Também nas restantes áreas deveriamos perceber que a repetição, a técnica e a capacidade de decorar têm muito para nos ensinar. É claro que isto não significa, ao contrário do que o cartoon acima indica, que não se deva perceber e raciocinar. Significa simplesmente que repetir e decorar podem-nos ajudar a fazê-lo.

Wednesday, November 10, 2010

Estudantes defendem (os seus?!) direitos


De acordo com uma notícia do jornal Público de hoje,
Por um novo Estatuto do Aluno, pelo fim dos exames nacionais e a favor da Educação Sexual, os estudantes do ensino básico e secundário manifestaram-se hoje um pouco por todo o país.
Estas manifestações de estudantes, em particular as do ensino básico e secundário, não podem ser levadas a sério por uma razão muito simples: de uma forma geral, os manifestantes não estão a defender os seus direitos. Eles podem achar que sim, mas estão enganados.

Há anos que isto vai sendo assim: os alunos do ensino básico e secundário que vão para manifestações não sabem fazer mais do que defender umas quantas políticas insultuosas para quem trabalha, se esforça e tem mérito, desde acabar com os exames nacionais a pedir mais disciplinas sobre "conhecimentos" complementares àqueles que são a principal função da escola; pelo meio, vão-se ainda inventando formas para defender um regime de faltas predominantemente laxista, entre outras coisas.

A verdade é que isto não poderá durar para sempre. Ainda está para nascer alguma associação organizada de alunos que, percebendo que estão a ser vítimas de um ensino pouco exigente e que não os prepara para a vida profissional, vai olhar para as estatísticas da OCDE sobre educação (por exemplo) e dizer que basta de estar constantemente na cauda da Europa (e não só).

Portanto, basta de passar horas infinitas na escola por causa de disciplinas como Área de Projecto e afins, basta de igualdades falsas que só servem para mascarar as desigualdades, basta de teorias pedagógicas que tratam os alunos como crianças infantis e inocentes (um pouco como Isabel Alçada faz no famoso video de abertura do ano lectivo), basta de uma educação facilitista e que não ensina. Queremos aprender Matemática, Português e afins; e queremos mais exames nacionais (até porque não é bom ter-se grande parte da nota de candidatura dependente de um único exame).

No entanto, não tenho dúvidas: poderá demorar anos, mas um tal movimento estudantil, mesmo que muito minoritário, irá com toda a certeza surgir.

Sunday, November 7, 2010

The Social Network


David Fincher tem mantido, regra geral, o piloto automático ligado durante os seus últimos filmes, e The Social Network é provavelmente o exemplo mais flagrante de todo o automatismo que lhe tem sido característico.

O filme é sempre competente na forma como conta a história do inventor do Facebook, com personagens eficazes e ritmo adequado, mas não existe um único momento de inovação capaz de o elevar para além da mais básica competência.

A tentativa de tornar a vida de Max Zuckerberg num grande drama dos tempos modernos (há quem tenha proclamado que é isso que o filme faz) fica assim completamente limitada pela crise de ideias de Fincher: por exemplo, a relação com a ex-namorada não tem um pingo de densidade, e, no entanto, é com uma referência a essa relação que o filme termina, mas sem deixar mais que uma sensação de total inconsequência.

E pensar que este é o realizador de The Game...

Tuesday, November 2, 2010

A ler

Monday, November 1, 2010

alfabetismo não é cultura

Os defensores de que a escola portuguesa está bem orgulham-se de uns quantos índices que se alteraram radicalmente desde o 25 de Abril de 74 até à actualidade, nomeadamente o seguinte: o analfabetismo diminuiu imenso, pelo que somos mais cultos e sabemos cada vez mais.

Como é evidente, o analfabetismo diminuiu porque a escola passou a ser para todos (e ainda bem), pelo que todos (ou quase) aprenderam a ler (não interessa se mal ou bem). No entanto, o debate da qualidade da escola não pode girar em torno dos números relacionados com o analfabetismo, pois saber ler é um ponto assegurado à partida para quem vai à escola nem que seja por quatro anos, salvo raras excepções. A diminuição do analfabetismo só diz uma coisa: existe escola. Mas que existe escola já nós sabemos; agora, queremos saber qual a sua qualidade.

Como tal, é altura de prosseguirmos para as questões fundamentais. Por exemplo, a escola ensinou os alunos a pensar? As pessoas terminam o ensino secundário com capacidade de reflexão, de interpretação e de raciocínio? Possuem uma cultura científica sólida, esse grande pilar da sociedade moderna? Estão sensibilizadas para compreender e apreciar a importância da arte?

A resposta é, infelizmente, não. Não estou a dizer que todas as pessoas saem nestas condições, mas sim que a escola não as garante a quem termina o ensino secundário. Quando olhamos para a forma como a moda das pulseiras do equilíbrio se espalhou entre essas idades percebemos que faltam as ferramentas que permitem distinguir ciência de aldrabice. Ou quando se vêem jovens a defender que o Homem não foi à Lua, também compreendemos que, inevitavelmente, algo falhou na educação, como recordava o astronauta Harrison Schmitt há algum tempo:
If people decide they’re going to deny the facts of history and the facts of science and technology, there’s not much you can do with them. For most of them, I just feel sorry that we failed in their education.
A causa de tudo isto torna-se clara quando lemos ou ouvimos o que a professora de português Maria do Carmo Vieira tem dito sobre o que acontece nesta disciplina, podendo-se generalizar para as restantes áreas: está-se a retirar dos programas tudo aquilo que faz pensar e que possibilita a reflexão, insistindo que só interessa o prático e o utilitário.

A verdade é que, em certo sentido, continuamos analfabetos, só que este analfabetismo agora é outro: ausência de capacidade de raciocinar sobre o que é verdade e o que é mentira, de cultura científica e histórica, de interpretar e reflectir sobre o que a arte nos pode transmitir.

A propósito, apetece-me terminar com um excerto de um artigo que João Lobo Antunes escreveu para o Semanário Económico há pouco mais de um ano, com um sublinhado meu:
Será que não há já ninguém que saiba revelar a estas inteligências virgens a extraordinária beleza da Matemática, criação dos homens e dos deuses, ensinar-lhes não a ler mas sim a saber ler e compreender, a escrever de forma clara e persuasiva, e a respeitar o rigor como forma de procurar a verdade?