Wednesday, June 24, 2009

Ouvir Quem Sabe

Realizou-se ontem a primeira fase do Exame Nacional de Matemática. Na minha opinião, embora tenha tido uma estrutura muito idêntica à do ano passado, os exercícios foram, em geral, de dificuldade mais elevade, muito embora a escolha múltipla tenha sido mais uma vez oferecida. (Já o exame de Matemática B está no facilitismo do costume, com certas sugestões que mais pareciam resolusões, mas essa é outra conversa.)

No entanto, não é a minha opinião que interessa. E nesta matéria de exames é importante ouvir quem sabe e quem está numa posição credível para falar. E quem cai nessa categoria são as associações independentes especialistas nas matérias em causa. Por exemplo, se queremos um parecer justo, isento e verdadeiro sobre o exame de matemática, é este que temos que ler.

As associações de professores, os alunos, o Ministério da Educação, etc., têm interesses acima do interesse de um ensino justo e de qualidade: interesses estatísticos, interesses por que hajam boas notas, seja o que for. Portanto, as suas opiniões, embora devam ser tidas em conta, não devem ter mais relevância do que a de mera opinião. São associações como a SPM que têm noção do que é saber matemática, e da matemática que um aluno precisa de saber para poder ingressar no ensino superior.

A SPM disse que o exame "sem ser difícil, não é escandalosamente fácil". Assinalou uma ligeira melhoria em relação ao ano passado, mas a única parte da matéria à qual teceu elogios foi à parte de complexos, não criticando também a de probabilidades. Já a lista de críticas é muito maior. No entanto, não ser escandalosamente fácil está a fazer com que todos considerem que a prova foi exigente e bem concebida. Isto é bem revelador do facilitismo em que se encontra o ensino, e em particular o ensino da matemática, em Portugal: dizer-se que um exame não é escandalosamente fácil é interpretado como um enorme elogio!

Esta brincadeira tem que acabar! As pessoas têm que deixar apenas de criticar e passar a chamar a atenção para a solução deste problema. E a solução passa por entregar a missão de desenvolver programas, escrever manuais e elaborar exames a verdadeiros especialistas na área: escritores, artístas, matemáticos, etc. Numa sociedade política como a nossa, que vive para as estatísticas, para o politicamente correcto, e em que as teorias do eduquês estão cada vez mais em voga e a destruir o ensino, esta solução não é sequer posta como possibilidade. No entanto, aqueles que defendem um ensino justo e exigente, e que prepare convenientemente os alunos para o Ensino Superior, têm de continuar a lutar por ela, pois sabem que esta constitui a única possibilidade de mudar as coisas.