A entrega do Prémio Nobel da Paz a Barack Obama criou polémica. Alguns, que vêem no actual presidente americano o caminho para a salvação do planeta, encaram esta entrega com a maior naturalidade. Outros, que desde o início criticam cada movimento de Obama, acham que o comité norueguês (responsável pelo Nobel da Paz) enlouqueceu de vez. Eu, que vejo em Obama um simples mortal com excelentes capacidades de oratória e grande competência, tendo a colocar-me no meio desta discussão.
Desde o início que o discurso de Barack Obama tem em vista o diálogo entre nações como forma de atingir a paz. Nos Estados Unidos da América, conseguiu mobilizar milhões de pessoas descrentes no sistema político em torno desse objectivo comum. Na Europa, onde a esmagadora maioria dos cidadãos criticou a era Bush, Obama é talvez mais popular do que nos EUA. Já depois de ter sido eleito, fez um discurso na Universidade do Cairo onde foi muito aplaudido, apesar de grupos talibãs terem apelado para que o mundo árabe não fosse na conversa de Obama. Esse discurso foi, aliás, excelente: elogiou e criticou tanto o mundo árabe como os EUA; desfez os estereotipos que se associam a cada um deles; e a ambos atribuiu culpas nas fracas relações que existem actualmente, da mesma forma que afirmou que ambos terão de trabalhar em conjunto para as restabelecer. E, finalmente, há que referir o diálogo com a Rússia e o acordo para o desarmamento. Por isso, sim, o que Obama fez tem tido em vista unir o mundo em torno da paz entre as nações.
Contudo, em termos práticos, Barack Obama ainda não tomou medidas verdadeiramente conseguentes para atingir a paz. De facto, a política do presidente para o Iraque não mudou radicalmente, ainda não fechou Guantanamo, é a favor da pena de morte para os crimes mais graves, e sempre se manisfestou a favor da guerra no Afeganistão. É discutível se esta guerra é ou não necessária do ponto de vista estratégico, mas uma coisa é certa: defende-la não é próprio de um Prémio Nobel da Paz. Neste sentido, o prémio não me parece de todo bem atribuido.
De acordo com o próprio Alfred Nobel, o prémio deve ser atribuido à pessoa que "during the preceding year [...] shall have done the most or the best work for fraternity between nations, for the abolition or reduction of standing armies and for the holding and promotion of peace congresses". Barack Obama apenas cumpriu isto parcialmente. Como tal, não posso deixar de acreditar que este prémio foi atribuido, acima de tudo, por motivos políticos.