O crescente facilitismo em que a educação tem vindo a resvalar não se verifica só pela falta de exigência dos exames, pela progressiva perda de autoridade por parte do professor na sala de aula, ou pela introdução de disciplinas ridículas (áreas de projectos e afins) à custa de outras mais importantes. Também se verifica no facto da especialização do ensino ocorrer demasiado cedo.
Não é aceitável que um cientista ou um engenheiro não saibam escrever um artigo de qualidade exemplar. Não é aceitável que um historiador não conheça a 2ª Lei de Newton. Não é aceitável que um economista não saiba quem pintou determinado quadro famoso. Nem é aceitável que um artista oiça falar da bolsa de valores e pense que se está a falar em alguma língua desconhecida.
Numa educação séria, um aluno não pode estudar só o que quer, o que gosta ou o aquilo para que tem mais jeito. Quando se programa uma calculadora, ela só tem que cumprir as suas função de fazer cálculos, gráficos, etc.; não tem que saber dar chutos numa bola. Quando se fabrica um robot que saiba jogar futebol, ele não tem que nos saber dizer quanto são 2+2. No entanto, quando se prepara um ser humano para fazer seja o que for, ele não pode deixar de ter um conhecimento geral sobre o mundo que o rodeia, para que, de forma crítica, possa pensar sobre ele, assim como comunicar com os que o rodeiam.
Alexandra Azevedo, há uns dias no De Rerum Natura, escreveu um excelente texto que termina assim:
Hoje, tal como ontem, deveríamos querer que os alunos sejam capazes de uma cidadania responsável, tendo para isso de ser proficientes em diversas áreas. Deveriam conhecer suficientemente tanto as ciências como as humanidades, crescendo na virtude e na inteligência. Só assim poderão ter «a justiça como fundamento».
Qualquer modelo no qual os estudos humanísticos e científicos não sejam fortes e complementares fraquejará em vitalidade e integralidade. E fraquejará porque será apenas mais um modelo de moda, temporário. O pulso da nação começará a faltar.