Thursday, September 23, 2010

Falsos argumentos


Sempre que vejo alguém a defender as praxes, mesmo que seja em programas estilo Opinião Pública em que levam lá um convidado estudante, a argumentação resvala sempre para falsos argumentos que nada esclarecem sobre se as praxes são positivas ou negativas. Vejamos os seguintes exemplos.

1. As praxes são boas porque permitem conhecer pessoas

Isto é verdade. Contudo, o que é que diz sobre se vale a pena lá ir? Nada. Certamente que quem vai para a prisão, a não ser que passe todo o tempo na solitária, tem uma oportunidade espectacular para conhecer pessoas. E o que é que isto diz sobre a qualidade do tempo que lá se vai passar? Nada. No entanto, é o argumento mais utilizado para convencer os alunos acabados de entrar no Ensino Superior e que até estão a pensar ir às aulas (que loucura!!) a não o fazerem.

2. As praxes são boas porque não se faz nada de mal

Admitindo que este argumento é verdadeiro, o que em alguns casos não é, não posso deixar de ficar espantado por se defender algo dizendo-se que "não faz mal". Eu, pelo menos, não costumo ficar muito confiante com propagandas de produtos que "não fazem mal". Prefiro escolher aqueles que "fazem bem".

3. As praxes são boas porque são tradição académica

Este argumento vem bem a propósito, depois de num dos posts anteriores ter colocado aqui um video de Richard Feynman em que este se refere à estupidez com que, sem pensar, as pessoas se submetem a símbolos, títulos, uniformes e à autoridade. Se uma data de gente vestida de preto a dar ordens a pessoal pintado, que obedecem cegamente, não se inclui neste conceito, não sei o que se incluirá.

Claro que há muitas pessoas que adoram genuinamente ser praxadas, e esses estão no direito de o ser. Os verdadeiros problemas são os seguintes: primeiro, há Universidades em que as praxes são levadas tão a sério que é impossível a integração dos alunos que não gostam delas, e que acabam a pedir transferência; segundo, aqueles casos que, apesar de não gostarem, tentam aguentar porque percebem que é a única forma de alguma vez serem aceites.

Para terminar, uma piada fácil. Quando a Universidade de Coimbra fez 700 anos, perguntaram ao organizador das praxes de determinado curso o que é que tinha a dizer sobre esse aniversário. Ele respondeu: "700 anos?! Epá, isso dava para tirar uns 2 ou 3 cursos!" Deixo a cada leitor a reflexão sobre se esta, ao contrário desta, terá (ou não) a sua dose de verdade.