Wednesday, September 8, 2010

Mitos sobre suicídio


O ser humano tem o estranho impulso de tirar conclusões precipitadas sobre como os outros se sentem e reagem, com base nas suas próprias preferências. O maior exemplo disso é a questão dos suicídios no Norte da Europa, esse mito que, por muito que seja desmentido por factos concretos disponibilizados pela Organização Mundial de Saúde, não parece ter fim à vista.

Devido ao facto da maioria das pessoas gostar de luz solar intensa e de calor, mesmo com temperaturas tão exageradamente elevadas como as que se têm sentido este Verão em Portugal, tem-se a tendência de assumir que as taxas de suicídio são elevadíssimas nos países do Norte da Europa, como a Noruega, a Suécia ou a Finlândia, onde o Sol, por muito tempo que esteja no céu durante o Verão, nunca brilha com a intensidade que vemos aqui em Portugal.

No entanto, como sempre, a verdade é mais complexa do que aquilo que se assume em juízos apressados. No site Psychology Today pode-se ler um artigo intitulado Sunshine and Suicide - Debunking some myths about suicide, onde não só este mito é desmontado como é ainda possível ler outras conclusões interessantes. Resumo da seguinte forma as que considero mais importantes:

  • Os suicídios são mais elevados em Junho no Hemisfério Norte e em Dezembro no Hemisfério Sul, precisamente quando o número de horas de Sol é maior;
  • Existe, portanto, uma forte ligação entre o número de horas de Sol e a taxa de suicídios, mas no sentido contrário àquele que se espera;
  • O que leva ao suicídio são depressões muito fortes, que nada têm que ver com o tempo;
  • Uma teoria explica esta relação da seguinte forma: as pessoas que sofrem de depressões fortes, ao estarem num ambiente com muita luz solar, recebem essa energia como uma motivação extra não para melhorarem, mas para elaborarem um plano de suicídio.
É, portanto, mentira que as taxas de suicídio sejam mais elevadas nos países do Norte da Europa. Na verdade, este pico ocorre na Europa de Leste, por razões que desconheço. Certamente que se pode especular sobre quais serão elas com base na nossa intuição. Infelizmente, a nossa capacidade intuitiva nestes casos é muito fraca. Como escreveu Arthur C. Clarke, "a verdade, como sempre, será muito mais estranha".