Tuesday, September 7, 2010

Pulseiras do Equilíbrio


Sempre achei muito divertido ver televendas. Quase todos os produtos são desenvolvidos por cientistas da NASA, e todos são comprovados por estudos anónimos dos quais não se consegue ler uma palavra sequer. Tudo isto dava-me vontade de rir, pois é tão ridículo que nunca me passou pela cabeça que qualquer pessoa com o mínimo de estudos pudesse acreditar em algo do que estava a ver.

Hoje, com as reacções que se têm visto às "pulseiras do equilíbrio", percebo que estava enganado. Se estas pulseiras têm tantos fãs, quantas pessoas acreditarão nos mais bizarros produtos das televendas? É que, em comparação com as pulseiras do equilíbrio, estes produtos são ciência pura. Estou, evidentemente, a exagerar, mas com um fundo de verdade: nunca nas televendas pude ver ou ouvir a quantidade de balelas pseudo-científicas mascaradas de ciência da forma rasca e insultuosa que li no site oficial das pulseiras do equilíbrio.

Expressões como "frequências embutidas em hologramas quânticos", "campo electromagnético do corpo humano", "tecnologia única que se liga ao campo energético criando um circuito que o optimiza e aumenta a distribuição de energia ao máximo", "frequências que ocorrem de modo natural dentro do corpo", "equilíbrio de cargas eléctricas positivas e negativas", ou "vias de fluxo de energias livres na frequência ideal" não fazem o mínimo sentido. Não têm significado. Se lá estivesse escrito "dgjnasuojsd ioasjafv qwoieurfaf asfnaju" ficaria a saber o mesmo: nada.

Tal como não basta escolher palavras ao acaso do dicionário para se fazer literatura, também não é suficiente juntar-se palavras tipicamente científicas para se fazer ciência. A ciência faz-se com um trabalho árduo de investigação, de experiência e de teoria, analisado por centenas ou milhares de cientistas de todo o mundo, de forma a que todo e qualquer erro desapareça. Não é suficiente juntar palavras ao acaso, referenciar a NASA como entidade e uns quantos estudos anónimos que ninguém viu para que um produto tenha credibilidade.

Claro que cada pessoa tem a liberdade de acreditar no que quiser. No entanto, importa referir que nunca a liberdade de pensamento fez com que uma mentira passasse a ser verdade. Da mesma forma, cada um tem também a liberdade de ser enganado, e de preferir à ciência o mito, a superstição e as aldrabices sem escrúpulos. Já a liberdade para se fazer publicidade mentirosa é mais questionável, pois aproveita-se da falta de conhecimento científico das pessoas.