Saturday, July 18, 2009

Matemática, Medicina e Educação

O excelente blog De Rerum Natura transcreveu um não menos excelente artigo de João Lobo Antunes sobre a relação da matemática com a medicina, e sobre a importância de um ensino exigente, assumindo que faz um elogio à dificuldade e que é um partidário feroz da dificuldade. O texto é excelente e portanto, também com a devida vénia, deixo o link para o artigo integral, não deixando de citar aqui algumas passagens que me parecem particularmente relevantes. [sublinhados meus]

De facto, como tem sido tantas vezes repetido por Nuno Crato, apontado também como “mau” nesta lamentável “fita” isto é muito grave pela simples razão de ser a matemática um instrumento indispensável à sobrevivência no mundo tecnológico e global em que vivemos. E não falo apenas nas áreas em que a sua aplicação é mais evidente, das engenharias à economia, mas de outras, como a biologia e a medicina, hoje ciências estocásticas e probabilísticas, o que fez a associação americana responsável pela educação médica recomendar recentemente que crescesse a exigência na preparação matemática dos candidatos ao curso médico.

E, já agora, não resisto citar o que o José Cardoso Pires me escreveu numa carta de Novembro de 1996, a propósito do meu primeiro livro de ensaios: “Por causa de três cadeiras não conclui a licenciatura em Matemáticas: hoje estou arrependido porque com certeza escreveria melhor...”. A Matemática e o Português têm, como se vê, uma insondável ligação.

Contudo, a missão da escola não é fazer os alunos felizes, mas sim, como descobri há anos, dar-lhe instrumentos para a construção da sua própria felicidade, além de, como citava T.S. Eliott, fornecer-lhes os meios para ganharem honestamente a vida e equipá-los para desempenhar o seu papel como cidadãos plenos numa democracia. Para isso a escola deve desenvolver o necessário equipamento cognitivo e muscular as qualidades indispensáveis para estas tarefas, preparando-os assim para a “luta do mundo”. A minha tese é pois, muito simples: a escola fácil não cumpre a missão de preparar os alunos para a vida difícil.

Mas, em todo o caso, a pergunta aqui fica: será que não há já ninguém que saiba revelar a estas inteligências virgens a extraordinária beleza da Matemática, criação dos homens e dos deuses, ensinar-lhes não a ler mas sim a saber ler e compreender, a escrever de forma clara e persuasiva, e a respeitar o rigor como forma de procurar a verdade?