Duas notícias recentes vindas do estrangeiro deviam fazer com que os optimistas do costume repensassem o estado das coisas em Portugal.
Uma delas, é o processo Madoff. Em apenas um ano, Madoff foi julgado e condenado a 150 anos de prisão pela fraude económica que cometeu. Carlos Abreu Amorim escreveu no blog Blasfémias um grande comentário: esse seria mais ou menos o mesmo tempo que por cá levaria o processo a ser concluído... Também Marinho Pinto se pronunciou, como não podia deixar de ser. Não sou propriamente grande admirador do actual Bastonário da Ordem dos Advogados; faço-lhe críticas e elogios. Mas desta vez, o que disse foi acertadíssimo. Em resumo, disse que este processo devia ser um exemplo para Portugal, e que, na verdade, é também uma vergonha para o nosso país, em que os processos andam enrolados durante anos sem que nada aconteça. Finalmente, falou em algo que, embora paradoxal, me parece ser inteiramente verdade: o direito à condenação.
Outra notícia foi a excelente ideia do Expresso em questionar as Sociedades Espanhola e Francesa de Matemática sobre os exames portugueses da disciplina. Mais uma vez, os optimistas eduqueses do costume gostam de criticar os exageros da Sociedade Portuguesa de Matemática, mas, surpresa das surpresas, em Espanha e em França disseram exactamente a mesma coisa!
Acontece que, para além de criticar os nossos exames, a Sociedade Francesa de Matemática também criticou os seus próprios exames. O problema não é, de facto, só nosso. Mas isso não deve ser, como é óbvio, um incentivo para não melhorarmos.
Para além disso, Daniel Duverney, membro da SFM, levanta ainda uma questão interessante: "O que fazer quando nos apercebemos que a maioria dos alunos não consegue dominar os conhecimentos que se tinham definido como essenciais?". A esta questão, eu penso que temos que responder com outra: Porque é que a maioria dos alunos não consegue dominar os conhecimentos que se tinham definido como essenciais? Eu não conheço o problema em França, mas, por experiência própria, conheço-o em Portugal. E sei como o 3º ciclo do Básico e o Secundário são feitos neste país: na brincadeira. Os alunos não trabalham nem têm noção da importância do esforço e do estudo. É por isso que baixar os critérios porque eles não são atingidos é um erro. Até porque, como conclui o próprio Duverney, e citando o artigo do Expresso:
A questão é saber se esse nível de exigência é suficiente para formar cientistas, engenheiros e técnicos de qualidade. Salientando que a formação de base é a mais importante na Matemática, devido ao carácter piramidal da disciplina, Daniel Duverney deixa o alerta: "É provável que não". Que este alerta nos faça, então, repensar o que é preciso para melhorar o ensino da matemática não nas estatísticas, mas no conhecimento dos alunos.