A política portuguesa está num estado lastimável. Pessoas como Medina Carreira têm chamado a atenção para o facto do estado em que isto está não ser suportável, e que não sabe como isto vai acabar ou como se vai solucionar. Ainda hoje, Miguel Sousa Tavares escreveu, no Jornal de Notícias, "Não sei se Portugal é governável, sinceramente". Esta crise política e social não vai terminar em Portugal quando a crise económica mundial passar.
Num país em que na política o habitual é mentir-se descaradamente (Sócrates disse que não sabia do negócio entre a PT e a TVI) e nada acontece, em que o habitual é o insulto, em que a Assembleia da República em dias de debate tem sempre o som de fundo de urros e de bocas para o ar, evidenciando uma falta de respeito gritante, algo está mal. E, mais grave que tudo isto, os partidos políticos só falam de conversa da treta que não interessa a ninguém, em vez de propostas concretas possíveis de cumprir.
Em Portugal, em que o estado habitual é este, é natural que a atitude de Paulo Rangel na sua despedida da Assembleia da República tenha causado surpresa em todos os sectores. Respeitar (já nem digo elogiar) um adversário é algo raro na política portuguesa. Quem, como eu, acompanha mais ou menos regularmente a política nos EUA, não pode deixar de ficar absolutamente chocado com o facto disto ser possível. Basta ver-se os debates antes das últimas eleições presidenciais nos EUA, ou os discursos de Obama e de McCain no dia das eleições, para se perceber do que falo. A deputada Teresa Caeiro, do CDS, alerta-nos para isso:
Quando o Presidente da República vem à Assembleia, muitas vezes os partidos que não o apoiaram não batem palmas. Nos EUA, o Presidente vai ao Congresso e é aplaudido de pé por todos. Criou-se a ideia de que as convicções parlamentares e partidárias ficam menorizadas quando se reconhece o mérito de outros que não têm as mesmas ideias que nós.
É neste sentido em que iniciativas como esta (noticiada aqui) são muito bem-vindas. Um grupo de cidadãos independentes, descontentes com o estado da política, lançam um manifestos com algumas opiniões, mas sobretudo com questões que consideram que devem ser directamente respondidas pelos partidos políticos.
Embora não concorde a 100% com o conteúdo do manifesto (estranho seria se concordasse), decidi assiná-lo e divulgá-lo porque concordo em absoluto com a urgência de que o debate político deixe de estar assente em numa conversa vazia e em argumentos cíclicos que não nos levam a lado nenhum. Devem, sim, ser colocados em cima da mesa os principais problemas do país, e as consequências que estes podem ter a curto, médio e longo prazo. E, quanto aos partidos políticos, devem responder de forma concreta e directa à forma como os pretendem combater.