Dizia Medina Carreira há uns dias numa entrevista que deu a Mário Crespo, como sempre sem papas na língua, que "estes políticos que nós temos são todos um nojo". Às vezes, embora cada vez mais raramente, tenho esperança de que Medina Carreira esteja errado, mas quando leio notícias como esta, essa esperança desaparece rapidamente. Até porque não há nada mais nojento do que ver a educação transformada em arma política.
A lógica do Secretário de Estado Valter Lemos, e de outros comentadores que tenho visto, é brilhante: cantam vitória porque, afinal, os exames não foram facilitistas, e está aqui esta ligeira descida das médias para o provar. E surge, então, explícita ou implícita, a acusação: e agora, como se defende a Sociedade Portuguesa de Matemática perante isto? Claro está, no entanto, que os defensores desta lógica da batata ainda não compreenderam algo essencial: que o patamar adequado de exigência não se encontra em função das médias dos alunos, mas sim em função do conhecimento necessário para se continuar estudos sobre a matéria ao nível do ensino superior, e que futuramente vai permitir formar cientistas, engenheiros, médicos, economistas, gestores, etc. de qualidade.
Num sistema de ensino normal, especialistas nas matérias estabelecem patamares mínimos de exigência e de conhecimentos que devem ser necessários, e a obrigação dos alunos é esforçarem-se para os atingir. No nosso sistema educativo, está tudo de pernas para o ar: os exames mudam de dificuldade como o Secretário de Estado Valter Lemos muda de camisa, tentando adaptar-se às dificuldades dos próprios alunos, que desta forma ditam a exigência do ensino, em vez de ser o contrário. Quem conclui, por as médias terem descido e se situarem no limiar entre a positiva e a negativa, que os exames foram de dificuldade adequada, só pode pensar assim!
Tomemos um exemplo simples mas revelador. O ano passado a média de entrada para o curso de Engenharia Mecânica no Instituto Superior Técnico foi de 15 valores. Tendo em conta que o exame de matemática subiu a média a quase toda a gente, podemos assumir (pode-se verificar facilmente que assim acontece) que a esmagadora maioria das centenas de alunos que entram nesse curso por ano tiveram uma nota igual ou superior a essa no referido exame de matemática. No entanto, estatisticamente, mais de 70% dos alunos de Engenharia Mecânica chumbam à disciplina de Cálculo I. É caso, então, para perguntar: onde estão aqueles quinzes do exame nacional? Até que ponto é que eram justos? Davam uma ideia adequada aos alunos dos seus conhecimentos em matemática? O esforço que fizeram para os obter deu-lhes a mínima noção do esforço que iriam ter que fazer para passar à disciplina de Cálculo? Todas estas perguntas respondem-se facilmente caso queiramos olhar para a realidade.
E depois claro, tal como todos os anos, surgem notícias como esta: maiores dificuldades são na área de ciências. Mas a questão que temos de colocar é porquê? E aí podemos chegar a uma conclusão que os polícias do politicamente correcto não gostam, e que por isso recusam: a área das ciências é muito mais implacável que as outras ao não deixar passar a ignorância. Aqui não há hipóteses de defesa com os subjectivismos do costume, nem nos podemos esconder atrás de um belo palavreado de conteúdo vazio. Nas ciências, estamos simplesmente frente a frente com o nosso conhecimento. Isto não se trata de um ataque às humanidades, mas do mais simples facto: se em filosofia não sabemos alguma resposta podemos inventar, dar uma opinião relacionada com a questão, e se isso for bem escrito teremos certamente alguma cotação; em matemática, o mais provável é termos que passar à frente. Convém recordar o que escreveu, há oito anos atrás, José Manuel Fernandes no jornal Público:
Aprender Física e aprender Matemática exige esforço, exige concentração, exige trabalho, exige fazer muitos exercícios, exige testar muitas vezes os conhecimentos, ginasticar o raciocínio. Não se compadece com o improviso, nem vive apenas de intuição e de "jeito". A arte nacional do desenrascanço pode permitir vestir de belas palavras uma resposta ignorante em Humanidades - mas esbarra sem apelo nem agravo perante um problema concreto de Física ou de Matemática.
A lógica do Secretário de Estado Valter Lemos, e de outros comentadores que tenho visto, é brilhante: cantam vitória porque, afinal, os exames não foram facilitistas, e está aqui esta ligeira descida das médias para o provar. E surge, então, explícita ou implícita, a acusação: e agora, como se defende a Sociedade Portuguesa de Matemática perante isto? Claro está, no entanto, que os defensores desta lógica da batata ainda não compreenderam algo essencial: que o patamar adequado de exigência não se encontra em função das médias dos alunos, mas sim em função do conhecimento necessário para se continuar estudos sobre a matéria ao nível do ensino superior, e que futuramente vai permitir formar cientistas, engenheiros, médicos, economistas, gestores, etc. de qualidade.
Num sistema de ensino normal, especialistas nas matérias estabelecem patamares mínimos de exigência e de conhecimentos que devem ser necessários, e a obrigação dos alunos é esforçarem-se para os atingir. No nosso sistema educativo, está tudo de pernas para o ar: os exames mudam de dificuldade como o Secretário de Estado Valter Lemos muda de camisa, tentando adaptar-se às dificuldades dos próprios alunos, que desta forma ditam a exigência do ensino, em vez de ser o contrário. Quem conclui, por as médias terem descido e se situarem no limiar entre a positiva e a negativa, que os exames foram de dificuldade adequada, só pode pensar assim!
Tomemos um exemplo simples mas revelador. O ano passado a média de entrada para o curso de Engenharia Mecânica no Instituto Superior Técnico foi de 15 valores. Tendo em conta que o exame de matemática subiu a média a quase toda a gente, podemos assumir (pode-se verificar facilmente que assim acontece) que a esmagadora maioria das centenas de alunos que entram nesse curso por ano tiveram uma nota igual ou superior a essa no referido exame de matemática. No entanto, estatisticamente, mais de 70% dos alunos de Engenharia Mecânica chumbam à disciplina de Cálculo I. É caso, então, para perguntar: onde estão aqueles quinzes do exame nacional? Até que ponto é que eram justos? Davam uma ideia adequada aos alunos dos seus conhecimentos em matemática? O esforço que fizeram para os obter deu-lhes a mínima noção do esforço que iriam ter que fazer para passar à disciplina de Cálculo? Todas estas perguntas respondem-se facilmente caso queiramos olhar para a realidade.
E depois claro, tal como todos os anos, surgem notícias como esta: maiores dificuldades são na área de ciências. Mas a questão que temos de colocar é porquê? E aí podemos chegar a uma conclusão que os polícias do politicamente correcto não gostam, e que por isso recusam: a área das ciências é muito mais implacável que as outras ao não deixar passar a ignorância. Aqui não há hipóteses de defesa com os subjectivismos do costume, nem nos podemos esconder atrás de um belo palavreado de conteúdo vazio. Nas ciências, estamos simplesmente frente a frente com o nosso conhecimento. Isto não se trata de um ataque às humanidades, mas do mais simples facto: se em filosofia não sabemos alguma resposta podemos inventar, dar uma opinião relacionada com a questão, e se isso for bem escrito teremos certamente alguma cotação; em matemática, o mais provável é termos que passar à frente. Convém recordar o que escreveu, há oito anos atrás, José Manuel Fernandes no jornal Público:
Aprender Física e aprender Matemática exige esforço, exige concentração, exige trabalho, exige fazer muitos exercícios, exige testar muitas vezes os conhecimentos, ginasticar o raciocínio. Não se compadece com o improviso, nem vive apenas de intuição e de "jeito". A arte nacional do desenrascanço pode permitir vestir de belas palavras uma resposta ignorante em Humanidades - mas esbarra sem apelo nem agravo perante um problema concreto de Física ou de Matemática.