No livro The Blank Slate, Steven Pinker explica-nos a tese da tabula rasa: todos nascemos iguais, e, nessa altura, o nosso cérebro é uma espécie de página em branco, que é depois escrita e moldada pela cultura e pela sociedade. O expoente desta tese é o filósofo John Locke, que a explicou no livro Ensaio Acerca do Entendimento Humano.
Apesar da tese da tabula rasa estar completamente ultrapassada actualmente, tendo sido demolida pela ciência e pela psicologia moderna, a verdade é que continua a ter muitos adeptos. Nos capítulos seguintes do livro, Pinker tenta perceber as razões por que tal acontece. O autor conclui, então, que muita gente não quer deixar de acreditar na ideia do cérebro como uma página em branco por medo das consequências que isso poderia trazer. Isto é, Pinker diz-nos que, para essas pessoas, o facto de os seres humanos não nascerem todos iguais provoca-lhes quatro medos. São eles:
- O medo da desigualdade: "If people are innately different, oppression and discrimination would be justified.";
- O medo da imperfeição: "If people are innately immoral, hopes to improve the human condition would be futile.";
- O medo do determinismo: "If people are products of biology, free will would be a myth and we could no longer hold people responsible for their actions.";
- O medo do niilismo: "If people are products of biology, life would have no higher meaning and purpose.".
Podemos, então, concluir que a teoria continua a ser aceite por algumas pessoas não por ser cientificamente correcta (que não é), mas por ser a que mais se adequa às suas visões políticas. A verdade é que a tese da tabula rasa não se torna mais verdadeira por a defendermos com mais convicção política, ou por muito que veneremos o princípio da igualdade. A ciência não pode ser usada como arma política.
De qualquer forma, e é sobretudo sobre isto que incidem estes capítulos de The Blank Slate, o princípio da igualdade (e outros que consideramos igualmente essenciais numa sociedade livre e democrática) continua são e salvo, mesmo que não seja verdade que nascemos todos iguais. O facto de todos sermos diferentes não implica, como é evidente, a validade moral dos direitos individuais de cada um.
Mais ainda: Steven Pinker mostra que, se seguissemos a mesma ordem de ideias das pessoas que querem aceitar a teoria da tabula rasa por motivos políticos, então também essa teoria poderia ter consequências desastrosas, como teve no passado com o comunismo na Rússia e na China.
Em suma, aquilo de que nos devemos lembrar é que a nossa biologia não tem nada que interferir com os nossos valores éticos e morais. A certa altura, Pinker cita uma personagem de um filme de John Huston, The African Queen: Nature is what we are put in this world to rise above.