A Sociedade Portuguesa de Matemática (SPM) tem vindo a dizer desde há já algum tempo que os exames de matemática não são comparáveis de ano para ano, mudando constantemente de dificuldade. Não sei se foi o ano passado ou se foi há dois ou três anos, o Ministério da Educação reagiu a esta crítica da SPM dizendo que não é nada disso que se passa, e que na verdade as provas têm sempre a mesma dificuldade e que a subida de notas dos alunos que se revelou nos anos anteriores era consequência das alterações nos programas e da melhor preparação dos alunos.
Como é evidente, ninguém acreditou nisso, talvez à excepção de uma suposta "especialista" em exames nacionais entrevistada pelo Público há algum tempo (infelizmente já não consigo encontrar a entrevista original, mas quanto a isso não há melhor do que ler um texto [parte1 - parte 2] de Filipe Oliveira, que também inclui excertos da entrevista original). À parte dessas excepções, todos sabemos que a SPM tem razão quando diz que os exames têm mudado de dificuldade de ano para ano. E a prova de que a SPM está certa é que os comentários que faz sobre a exigência de cada exame estão sempre em conformidade com as notas que passado algumas semanas são lançadas. O exemplo do exame nacional de 9º ano deste ano foi notável, pois a SPM aplaudiu o aumento de exigência e fez inclusivé bastantes elogios à prova. Consequência: as notas baixaram.
Neste artigo que acabo de citar, Miguel Abreu, o novo presidente da SPM que acabou de suceder a Nuno Crato há uns dias, diz algo absolutamente fundamental no que diz respeito a exames nacionais, embora seja uma coisa de que muita gente se esquece: "Não devem ser os exames a adaptar-se aos alunos (...). O que se tem que fazer é trabalhar para que os alunos obtenham positiva em exames com um nível de exigência adequado e isto consegue-se com um melhor ensino". Resta saber se este caso particular do exame nacional do 9º ano de 2010 é apenas uma gota no oceano, ou se o ensino básico vai, de facto, no caminho certo.