Em 1977, quando o realizador Roman Polanski tinha então 44 anos, teve relações sexuais com uma rapariga de 13 anos. No ano seguinte, um dia antes da sentença ser anunciada, o cineasta fugiu dos Estados Unidos da América para viver em França. Devido às complicadas leis de extradição entre a França e os EUA, Polanski nunca mais foi a tribunal americano. No entanto, durante uma visita à Suiça o ano passado, o realizador foi preso, embora pouco depois libertado sob caução. Os EUA pediam a sua comparência em tribunal, mas há 3 dias a justiça suiça pôs um ponto final nesta situação: Polanski não irá a tribunal.
Sobre esta situação, algumas notas:
1) A onda de apoio a Roman Polanski que circula em alguns meios intelectuais e artísticos, tanto europeus como americanos, é absolutamente desonesta. Por ser um realizador com algum talento, Polanski não pode ser tratado de forma diferente do cidadão comum no que diz respeito à prática de crimes.
2) Um dos argumentos utilizados pelos seus defensores é o da sua vida difícil. Viveu a infância num gueto, os seus pais morreram em campos de concentração, e a sua ex-mulher Sharon Tate foi brutalmente assassinada em 1969 num caso que chocou os EUA. Contudo, mais uma vez, uma vida dramática não desculpa a prática de crimes. Se assim fosse, quantos criminosos teriam de ser libertados?
3) Esta desonestidade intelectual tem como cúmulo o que recentemente se passou com a Igreja, cujos casos de pedofilia causaram as reacções que têm sido vistas nas notícias. Parece que algumas elites intelectuais europeias e americanas têm a estranha capacidade de distinguir entre dois tipos de pedofilia: a pedofilia má, cometida por padres e outros membros do clero; e a pedofilia desculpável, aquela que é cometidas por artistas de renome. (A Igreja, claro, tende a fazer a distinção ao contrário.)
4) Esta situação não devia ter discussão possível, por isso é que fico tão espantado com as ondas de apoio que vão surgindo. O caso é muito simples: Polanski cometeu um crime grave, e como tal deveria ser julgado por isso.