Estive em dois dos três dias do encontro da Sociedade Portuguesa de Matemática, em Leiria, realizado nos dias 8 a 10 do presente mês, durante os quais tive oportunidade de ouvir várias visões sobre a utilização da calculadora nas disciplinas de Matemática em turmas do ensino básico.
Uma das visões consiste na proibição de se utilizar da calculadora na sala de aula. Desde os testes aos exercícios que se fazem na aula ao longo do ano, os alunos não deviam poder utilizar de todo a calculadora, talvez exceptuando um ou outro caso pontual, em que fosse devidamente autorizada.
Outro ponto de vista que tive oportunidade de ouvir propunha que a calculadora devesse ser utilizada para cálculos em que é de facto útil utilizá-la, ou seja, quando é mais fácil e rápido do que fazer o cálculo à mão ou de cabeça.
Esta visão parece-me preocupante, por duas razões. Primeiro, porque para os alunos aprenderem a distinguir entre os cálculos que se fazem mais rápido de cabeça e os que se fazem mais rápido na calculadora, é preciso praticarem "à mão" muito de ambos. Se um aluno puder sempre usar calculadora, nunca irá aprender a distinguir 50*27*2 de 12*17*6 em termos de rapidez de cálculo mental.
A segunda razão é que é perigoso afirmar que se deve sempre permitir aos alunos utilizar os métodos mais fáceis e rápidos. É evidente que ninguém, no quotidiano, vai fazer 253*439*13 à mão se tiver uma cálculadora ao lado, mas isso não significa que o mesmo se aplique a um aluno. Seguindo esta lógica, nas disciplinas de Análise ou Cálculo de uma faculdade, só se pediria aos alunos para fazer primitivas de constantes, polinómios ou exponenciais (sem funções compostas), que são rápidas de fazer de cabeça; primitivas por partes ou por substituição ficariam reservadas para programas de computador ou calculadoras avançadas (que hoje em dia já não são raras) fazerem.
Finalmente, a professora Liping Ma apresentou uma visão interessante acerca da utilização das calculadoras, mas, na minha opinião, sem aplicabilidade prática numa sala de aula portuguesa. Liping Ma disse que, de vez em quando, os alunos deveriam ter acesso a calculadoras, mas não as deveriam utilizar como uma ferramenta, mas sim como um brinquedo. Por outras palavras, as calculadoras não podiam substituir o cálculo manual em que se praticam os algoritmos, mas simplesmente ajudarem os alunos a confirmar as suas contas e a perceberem as suas potencialidades.
Esta ideia lembra-me uma história contada por Nuno Crato no Prós-e-Contras de um colégio Norte-Americano em que os professores não podiam vigiar provas, pois se um aluno fosse apanhado a copiar, os próprios colegas o colocariam fora da sala. Também esta ideia é interessante, mas, como se pode calcular, não se poderia aplicar numa sala de aula portuguesa, pois ninguém a cumpriria. Ambas requerem algo que, actualmente, os alunos portugueses não têm: responsabilidade, esforço e vontade de aprender.