Durante a sua viagem pelos países nórdicos, Alexandra Prado Coelho concluiu, pela quantidade de vezes que ouviu a palavra, que o um dos seus "segredos" é a confiança:
E não falta muito para que, na conversa, surja aquela palavra: confiança. Já a ouvimos muitas outras vezes nesta viagem pelos países nórdicos. (...) “O grande poder nesta sociedade é a confiança. Em relação ao Estado e em relação uns aos outros. Se se perde essa confiança, não se pode funcionar como sociedade. Todas as crises surgem quando essa confiança se quebra.”
Mas, de facto, essa não foi a única vez que a ouviu:
A palavra “confiança” tinha irrompido nesta viagem pela primeira vez na Dinamarca, numa edição especial da revista Monday Morning intitulada “O Segredo Dinamarquês: como é que a Dinamarca se tornou numa das nações mais competitivas do mundo”. “Qual é o segredo dinamarquês?”, escreve o editor Erik Rassmussen. “A resposta curta é ‘confiança’.” (...) “A confiança também explica por que é que os dinamarqueses aceitam a pesada carga fiscal que têm. É que vêem os impostos como um investimento a longo prazo numa sociedade sustentável e confiam que os políticos vão gastar de forma adequada o dinheiro desses impostos.”
Os exemplos sucedem-se na reportagem da Pública, mas ficaram bem resumidos nestas frases. Em suma, significam o seguinte: os nórdicos confiam no Estado e nos políticos. Em Portugal, essa confiança está desfeita em nada. E com razão: enquanto os países nórdicos estão entre os menos corruptos do mundo, em Portugal os escandalos de corrupção financeira sucedem-se uns aos outros, acabando sempre por nunca apontar culpados. Os portugueses fazem bem em não confiar no destino do dinheiro dos seus impostos. O problema é que, sem essa confiança, a sociedade não pode funcionar.
De qualquer forma, o facto da corrupção ser baixa só garante que o dinheiro não tem um destino mau e ilegal. É necessário garantir mais que isso: a boa gestão desse dinheiro. Será que ele serve para construir TGVs desnecessários e investimentos análogos? Vejamos o que aconteceu na Noruega.
Este país do Norte da Europa teve uma grande sorte que o diferencia dos países vizinhos: descobriu petróleo. De qualquer forma, a sorte não é condição suficiente para garantir uma boa gestão de dinheiro. Porém, de acordo com Steinar Holden, da Universidade de Oslo,
Há cerca de 15 anos decidimos pôr todo o dinheiro do petróleo num fundo, e usar apenas quatro por cento por ano — um número que corresponde ao rendimento que esperamos que o fundo tenha. Se gastarmos apenas esses 4 por cento, o fundo nunca diminuirá, e assim as gerações futuras beneficiarão do petróleo tanto quanto nós hoje.
É certo que, neste caso, não se trata de dinheiro de impostos, mas o objectivo é apenas exemplificar a forma como os nórdicos olham para a gestão do dinheiro: a pensar na poupança, no longo prazo e nas gerações futuras. Qualquer semelhança com Portugal é mesmo pura coincidência.