Tuesday, January 11, 2011

O segredo dos melhores países do mundo (4): reforma


Não foi só a Finlândia que, nos anos 90, reconheceu que, no meio de uma crise, não havia dinheiro para sustentar um estado social que estivesse em toda a parte. Na verdade, algo semelhante aconteceu na Suécia, como relata a sindicalista Ursula Berge:
"(...) há 15 anos a Suécia estava numa situação económica muito difícil. Tínhamos um grande défice, uma grande dívida internacional e 30 por cento do Orçamento do Estado ia para o sistema bancário porque os empréstimos eram enormes. O Governo social-democrata da altura chegou à conclusão de que isto não era sustentável." A receita foi a inevitável: corte nas despesas do Estado.
Mas essa não foi a única medida tomada pelo Governo para combater a crise: "a isso somou-se a reforma do sistema de pensões".

Acontece que este tema das pensões e das reformas é tabu em Portugal. Se alguém diz publicamente que não é sustentável este sistema em que os trabalhadores actuais pagam as reformas dos que estão actualmente reformados, é de imediato apelidado de neoliberal que quer destruir o Estado Social. Pois bem, os "neoliberais" suecos perceberam que não havia alternativa:
Em 93, o que foi dito foi que cada pessoa devia pagar pelo seu próprio sistema de pensões, que assim deixa de estar sujeito a flutuações económicas ou demográficas.
Este sistema, para além de garantir maior sustentabilidade, tem uma grande vantagem (que, evidentemente, para os trabalhadores da Europa Ocidental parece ser uma enorme desvantagem):
O novo sistema encoraja as pessoas a trabalhar mais anos — quanto mais tempo trabalharem, maior a reforma.
E, já que se fala de reformas, parece fazer sentido comentar os recentes protestos em França contra o aumento da idade da reforma. Em Portugal, quando se diz que é inevitável ajustar esta idade pelo facto de o número de reformados estar a aumentar graças ao aumento da esperança média de vida, surge mais uma vez o apelido de neoliberal que não tem respeito pelos trabalhadores. Esta sindicalista sueca, contudo, tem outra visão sobre a questão:
Ursula confessa que os protestos em França contra o aumento da idade da reforma são, para ela, “uma coisa estranha”, porque lhe parece óbvio que “se vivemos mais tempo, temos de trabalhar mais tempo”.
Serão estes suecos também uns neoliberais sem escrúpulos? Não me parece: estão é conscientes da realidade e do significado da expressão responsabilidade social.

Finalmente, termino mais uma vez com essa capacidade notável, que tanto nos falta, que é conseguir pensar a longo prazo:
Depois de uma fase de transição (as pessoas que têm hoje entre 40 e 50 anos são as mais prejudicadas porque pagam para os dois sistemas), o sistema de pensões adoptado pela Suécia deverá garantir estabilidade às futuras gerações. “Eu faço parte da geração que será prejudicada, admite Ursula, “mas os meus filhos vão beneficiar”.