Como já vem sendo costume de há uns anos para cá, o Expresso publicou um
ranking das escolas secundárias portuguesas, ordenado pela média obtida nos exames nacionais. Como é evidente, não se pode assumir que a
qualidade de uma escola esteja perfeitamente espelhada nesse ranking, pois este é um valor algo subjectivo. Por exemplo: uma escola com muitos alunos problemáticos e mal preparados, mas que consegue ensinar-lhes o suficiente para que tenham uma prestação aceitável nos exames é certamente uma boa escola, mas que não irá estar num topo de um ranking destes.
Isto não significa, claro, que por causa disso seja impossível retirar quaisquer conclusões quando olhamos para as tabelas disponibilizadas. Um dado muito importante, por exemplo, tem que ver com a diferença entre a média das classificações externas (exames nacionais) e internas (avaliação contínua feita pela própria escola). Pegando apenas nas escolas que realizaram mais de cem provas, pode-se obter o gráfico seguinte, que mostra as classificações internas e externas em função da posição no ranking.
Vamos assumir algo que não é verdade: os exames nacionais representam a exigência desejável, e o esforço que é necessário fazer para se ter sucesso neles espelha o esforço que a dura realidade do mercado de trabalho exige. Mesmo que isto fosse verdade, as escolas já estariam a enganar os alunos: a classificação interna é sempre superior à classificação externa. Isto leva-nos a uma reflexão importante: frequentemente aparecem directores de escola de prestígio na televisão ou nos jornais a dizer que, nas suas escolas, a exigência é maior do que nos testes ou exames facilitistas fornecidos pelo Ministério da Educação. Sem querer retirar qualquer qualidade a essas escolas, esta questão, como se vê, é dúbia, pois nenhuma escola teve classificação interna inferior à externa. A situação agrava-se ainda mais por termos consciência de que o pressuposto assumido no início deste parágrafo é falso.
No entanto, o mais grave de tudo é o facto de, de uma forma geral, uma linha não acompanhar a outra. Face à descida da linha das classificações externas ao longo da posição no ranking, a linha das classificações internas, com oscilações, vai descendo de forma muito mais lenta, e poucas vezes vem abaixo dos 12 valores. Pode-se ter uma noção melhor deste fenómeno observando o gráfico seguinte, que para cada valor de classificação externa mostra a diferença de classificações nas várias escolas.
Isto é muito grave por duas razões. Primeiro, é uma injustiça para quem aprendeu alguma coisa ao longo do ano mas tem uma média interna idêntica a alguém que não aprendeu nada. Segundo, está-se a mentir aos alunos com piores desempenhos nos exames, por se lhes atribuir classificações internas positivas, não lhes dando uma noção real do que os espera nos exames nacionais. Note-se que, na última escola do ranking, esta diferença foi de 6 valores. Se analisarmos os rankings de disciplinas especialmente problemáticas, que o Expresso também disponibiliza, vamos encontrar situações ainda mais chocantes. Cheguei a ver 9 valores de diferença! Como é possível?! O que é que se anda a ensinar e a exigir aos alunos nestas escolas?
Ao contrário do que muitos apregoam, esta situação vai continuar a aumentar as desigualdades sociais, porque está-se a mentir aos alunos em piores condições de aprendizagem. Em vez de se lhes dar um grande apoio para aprenderem, está-se-lhes a dizer que estão a aprender quando, como se vê, não estão. Esta situação é inaceitável: as escolas não podem ser cápsulas de ilusão onde os alunos vivem felizes e contentes por nunca chumbarem; têm, isso sim, que espelhar a realidade. E a realidade é dura. Quando saírem da escola, essa felicidade ilusória vai terminar, numa altura em que provavelmete já vai ser tarde demais para ainda se prepararem para ela.
Para terminar, mais um dado para reflectir: já só há duas escolas públicas nas primeiras vinte...